Olhei por vários ângulos, de fato, continuava estranho. Pensei em como poderia comer um ovo. Aquilo é uma futura vida. Então observei o ovo com ares de vida. Por um instante, entendi os vegans. Aquilo é vida, amarela e disforme, mas vida. E placenta esbranquiçada, quase transparente. Imaginei se a bola amarela (sim, aquela gema parecia uma bola, um mundinho de ouro) já seria um início de uma galinha pequena, ou um galo, vai saber.
Olhei novamente para a gosma flutuando no copo, decidi que precisaria terminar as panquecas e que vegans são pessoas com TOC em relação à comida - explicação sem sentido que garantira meu lanche. Antes, porém, espetei a gema e procurei entre aquela amarelidão um início de galinha-bebê, não havia. E, apesar de óbvio, prossegui na experiência. Misturei a clara e a gema. Seguramente, não havia ainda um princípio de forma naquela coisa amarelada. Contudo, só por segurança, todas as vezes que for usar um ovo, de hoje em diante, despejarei no copo e, concluirei, com certeza, de que não há uma vida semi-formada e comestível naquela gosma. Ao menos, nenhuma vida que eu enxergue e reconheça.