domingo, 25 de novembro de 2012

levemente doce.

Desculpa por ter deitado tantos sentimentos, de uma vez só na sua cama, sem perguntar antes se poderia me despir tanto ou mesmo olhar a sua nudez de um modo já tão próprio. É tão fácil me aconchegar ao seu lado, deitar sua cabeça no meu ombro e despejar os textos, assim, sem ensaio algum.
Se eu não falasse tudo naquele instante, correria o risco de não conseguir outra chance e as perdas não podem ser impostas a amores como o nosso; que não se estranham entre paredes novas e se conhecem com a intensidade de outros dias que não viveram.
Não queria sumir sem que soubesse da sensação de pertencimento àquele quarto... seria errado me cercar de tanta naturalidade? Tenho medo de que minhas sombras tenham se desprendido de mim e se posto a morar na sua sala ou que meu cheiro tenho se dividido para dormir mais vezes ao seu lado. Talvez alguma ainda esteja na varanda, olhando a cidade, e se frustre por não poder exigir sua atenção com puxões enérgicos ou abraços desajeitados.
Nem precisaria de jeito, o encaixe dos nossos gênios perdoam as pequenas falhas. Há esse entendimento, as conversas mudas, as concordâncias implícitas, a não-necessidade de dizer que, talvez, talvez, talvez, isso durasse tempo bastante para derrubar as barreiras que tanto idealizamos, que talvez, nem demorasse tanto assim.
Também ainda verei sua sombra por aqui e eu sentindo falta de algo que nunca tivemos. Não é nossa culpa, não teve culpa, nós sorrimos e falamos sem ver o tempo passar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

o óbvio

desaprendi a arte da despedida, livrar-me das suas discussões é deixar uma grande parte dos meus dias sem uma terra certa, sem ter onde repousar os medos. e o que mais poderia ser dito ou reapresentado? o que mais não foi redito tantas vezes de tantas formas quanto poderíamos inventar do incompreensível? a compreensão é tão certa e fácil que assusta. não é que eu não queira você, sabe. é que eu não posso me querer ao seu lado. e eu quero. então, é isso.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

fixação

Esvai-se algo todas as vezes que engano.
Sei que não enganaria seus olhos.

Engana-me.
Diz que volta.
Sei que não, mas espero.
Talvez me agrade esperar.

Derrelição é amor, o único que entendo:
abandona-me todos os dias, porque um só já não me basta.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Estoca-me.

Com uma preguiça de melhorar...

I
Estoca-me.
Faz-me carne. Coma-me. Degusta-me. Usa-me. Descartável. Diz as ofensas de sempre e qualquer nova que possa me afundar em lagrimas. Hoje eu sou Dante e vou a todos os cantos em busca de uma salvação que nunca me permitirá. Eu serei nada se é isso que lhe falta, eu serei pouco se o muito não ocupa os ossos quebrados das nossas estruturas. Torna-me as vísceras desse amor, faz-me parte desse organismo que o que me resta lá fora já não me bombeia o sangue. Diz-me as verdades, se preferir, mesmo que eu prefira os sonhos, mesmo que seja para sonhar com muros ou murros, ambos indisfarçáveis.

II

Estoca-me.

Ao lado dos rotos e perecíveis. Guarda-me para amanha ou outro dia, para quando estiver cansado das outras bocas tão melhores que a minha. Eu resisto. Eu resigno. Mais do que ter, preciso querer. Preciso constar no seu dia mesmo como um incomodo, indesejável. Eu tenho desejo por nos dois.