quinta-feira, 21 de agosto de 2008

cores e aquarelas


É uma junção de tantas outras. A cor resultante? É essa, não sei dizer o nome, nem sequer de quais surgiu. É daquele tipo que você sabe que existe, mas os outros nunca sabem qual é. Ninguém acha que é a mesma cor, parece daltonismo. Vez ou outra, chegam perto e pensa que finalmente vão chegar a um consenso, mas logo se decepciona e continua sendo uma cor particular. Não que haja defeito na singularidade que ela implica, não mesmo. Não se torna incômodo a ponto de também se tornar insuportável. Provavelmente, incomoda mais a necessidade de tornar nitidamente certo. Perturba-me, em vários momentos, que não sei explicar o que se passa e o que vejo. No começo a mistura foi interessante, necessária. Só quando não tinha controle do resultado é que me pareceu assustador. Não dá pra separar. A cor que me veio é bonita, mas talvez preferisse vermelho ou algo mais simples de mostrar.

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Não classificaria como ciúmes o sentimento que me toma o peito todas as vezes que te imagino em outros braços. Talvez até seja, mas prefiro acreditar que a nostalgia e a saudade me incomodam bem mais do que a idéia de um sentimento tão comum. Já falei sobre o vermelho, não gosto das cores mais fáceis. Seria fácil demais dizer que é o preto que me escurece as vistas, prefiro lilás, é o lilás que me insulta o ritmo das batidas. Tenho tentado manter o equilíbrio e esquecer a falta que me faz não ver o teu sorriso. Tenho tentado esquecer-me de como era bom me aconchegar no teu corpo, te perceber tão maior e tão protetor. Não poderia ser ciúmes o que me incomoda tanto, prefiro que seja lilás.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

exposição de curtas

repostando meus "curtinhos" favoritos do blog antigo:

vive em angústia e espera
do outro que não via.

legenda alternativa:
vive em angústia e espera
do que nunca lhe ocorria.

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Não esqueça:
as lágrimas falam de tristezas
e alegrias.
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Leminskianos

I
Era tão errada
que até pra ser nada
era incompleta.
Era um pedaço
faltando do tudo.

V
Não lembro
o que lhe escrevo
Minha memória
anda morta
Eu
ando morrendo

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

le temps d'attente


Ao pousar o cigarro nos lábios, automaticamente analisou sua vida. Assim, percebeu assustada que duvidava de boa parte das suas aventuras, pois, naquele instante, as via como meios e não fins, eram apenas uma passagem para algo mais importante. Não. Não estava ali o ápice das suas vivências. Havia algo mais que queria alcançar. Duvidou das histórias que contara, das emoções que pensara ter vivido. Seria tudo tão intenso como dissera aos outros? Dessa análise, as lembranças emergiam: mas pareciam fake, a vida de outrem. Formou-se um labirinto, cheio de faunos ilusórios, porque em 3 segundos se perdera e já pensava nem ter vivido aquelas cenas, duvidava dos cenários: eram mesmo daquela forma ou foram inventados, vistos em filmes? Via tantas pessoas passando, envoltas em conversas, sorrisos, confusões. Do que tanto falavam e por que sorriam tanto? E aquelas vidas que pensava conhecer, aqueles instantes, os beijos, as catarses, os êxtases. Onde foi parar o sentido disso tudo? Quem viveu? O mundo parece mudo, silencioso, girando em torno de outra vida, não a sua. O que procurava estava além daquilo tudo, esperando ser descoberto como por acidente. E agora, mais que nunca, a frase martelava: “vivia em angústia e espera daquilo que não via”. Sabia que ainda não havia encontrado aquele sentido.

sábado, 9 de agosto de 2008

multiplicidade


primeiro, disseram que não tinha alma.
depois lhe atribuíram outras tantas
que roubou-lhe a calma
ver outros tantos rostos
que com o tempo esquecia.

e as opiniões divergiam
sobre o modo de encará-las
de fugir das dores que ela mesma criava
nos tempos de aquários e letargias.

então os tempos mudaram,
despediu-se: das almas que incomodavam
e preferiu as que melhor lhe serviam.