domingo, 19 de dezembro de 2010

eu ODEIO lojas cult.


Entrar naquele lugar foi visceral.

Ali eu tive vontade de fincar as unhas naquele carpete e colocar o chão no teto e enchê-lo de sangue e memórias afogadas.

Memórias suas. Aliás, memórias minhas de você. Rasgos no pano de chita, nos cadernos de cor, nos quadros de cores, nos olhos borrados.

Todo mundo diz que vai ficar muito louco, que fica fora de si e enche a cara de álcool e os pulmões de nicotina e benzina e pesticida e outras coisas mais que soam tão radicais e paixão-fodida.
Eu me fodi. Só queria por tudo ao avesso e te afogar no sangue e no vomito que me fez jorrar. Enchi-me de laranja, de clorofila, corridas e esteiras. Eu quis ser uma sofrida zen, meditando e falando de ETs e mãe-Terra.

Fiz tudo que podia pra parecer melhor que os enterrados em tragédia, mas e agora?

E agora que esqueci que tem alguém segurando minha mão e só quero o chão dessa loja de cabeça pra baixo ou, sei lá, talvez enfiar sua cara num muro chapiscado.

sábado, 9 de outubro de 2010

auto-retrato

Os idiotas que se embebedavam naquela noite saiam trotando e cantando hinos incompreensíveis. Felizes como nunca foram ou como nunca seriam... até a próxima embriaguez.
Não se pode dizer que não há infelicidade no meio daquilo tudo, ela existe, claro, mas é preenchida com cigarros e mais cigarros e a nicotina misturada ao álcool faz deles deuses. Pode-se falar com todos e tudo. É a magnificência do espírito traduzida numa dose sobre-humana de etanol. Com as veias afogadas e as cabeças nas nuvens, não se precisa de mais nada, nem de razão, nem que órgãos funcionem perfeitamente. É só o coração que cresce um mundo e se arranca do peito, saltando como um monstro pacífico, como um motor movido a vinho e vodka. Um motor instável que transpõe qualquer problema. No outro dia a puta da cabeça explode, mas eles desconsideram e bebem de novo. Problema resolvido.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

on the knees

Tinha algo de encantador no desespero em que ela buscava a sua boca. O ato humilhante e a rejeição tornavam a cena digna de ser relembrada e, naquele momento, eu nem me daria ao trabalho de achar aquilo tudo triste; era quase uma ciência de até onde uma pessoa pode chegar, eu tinha que me curvar pra ver, porque ela chegava baixo, o mais alto era ficar de joelhos e lhe prestar aquele pequeno favor.

Imagem: on the knees by olya fedorova.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

quinze.

15.
5 anos. 5 linhas. O bastante para reconhecer na sua forma de escrever a minha forma de escrever. O bastante para reconhecer na sua falta do que falar a minha falta do que falar. O mesmo desespero da adolescência, da velhice, da ausência. 5 segundos. São suficientes para relembrar como é morrer por você, aos poucos, demais.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Citrinos I.

Era dor. Dor. Era muita e corria violentamente de um lado para o outro da cabeça, com pontadas agudas e incisivas. Eram dezenas de facadas na cabeça. Quanta felicidade, meu Deus. Era quase entorpecente ter a cabeça arrancada e não conseguir pensar naquela. Ali era pior, eram batimentos fortes demais, era falta de ar, falta de paz, falta de orgulho e vergonha na cara. Era doença do mais alto grau de periculosidade. Foi avisada e reavisada várias vezes, riu porque quis, ignorou porque quis. Era achar demais, pensar que daquele mal não sofreria. Não era profano diagnosticar o amor como doença? Agora o tenha e agüente. Porque não há dinheiro que o valha, muito menos tratamento que o cure.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

sem flores e w3 sul.










Se continuar nesse ritmo, o blog passa de textos a desenhos...





Texto antigo:

Odeio a sensação de santidade que sua presença me impõe, odeio. Com as outras era inatingível. Nunca reclamei por elas e havia uma sublimação em ver aqueles choros cheios de culpa. Elas assumiam a culpa por não ter dado certo e eu parecia boa. Só havia bondade, ninguém era ruim na minha concepção. Eu não havia feito mal algum a elas e elas eram vítimas, não eram pessoas ruins.

Sinceramente, sentia-me extremamente confortável com essa aura instransponível. Então vem e me faz parecer uma santa. Um desperdício. Era cafajeste, descompromissada e agora estou presa diante da sua liberdade tão leve nos atos. Não consigo acompanhar, fico idiota querendo acompanhar, mas nunca me fez promessas e se deita com tantos outros quanto possa ter. Eu, absorta, dedico-me exclusivamente, passo a não desejar outras bocas, nem admito outros toques, só para não manchar vadiamente o amor que te dedico.

Estou destruída, escorraçada por sua indiferença, e continua sua. Nunca me mandou embora, mas nunca pediu para que ficasse... morro por me imaginar tão vítima e tão boa diante da sua indiferença acalentada em outros braços. Sofrida e entregue numa santidade absorta por pensamentos trágicos: uma doença fatal, um suicídio, tudo culpa sua. Perderia aquele ar sublime que tem nos meus pensamentos, aquela cara impassível que imagino em seu rosto enquanto choro desesperadamente. Poderia se sentir ruim por não me amar, poderia sentir minha falta. Então eu te trairia. Trairia com 28 outras mulheres por causa da dor que me causou. Seria sem sofrimentos causados.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

as putas é que sabem amar.

Toda puta ama. É como uma ciência que nós, que estamos fora daquilo, somos idiotas demais pra compreender. O fato é que elas amam e com uma devoção e resignação invejáveis. Cada beijo que dão valem por 10 de uma moça direita. É muita entrega, demais pra um ser só. Se nascesse mulher, nasceria puta, desde o berço, que era pra não perder tempo com moralismos impregnados de nada. Daria desde cedo, desde sempre, e não falo de “dar”, de boceta, de sexo; foda qualquer um tem. Falo de entrega, é bem mais que trepar, é saber ouvir quem não deveria, rir sem querer, e ainda ver prazer nisso tudo. Nasceria assim, lançada ao mundo e gozando prazer onde não há e nunca vai haver.

imagem: senhoras de avignon - picasso

domingo, 25 de abril de 2010

empty.


Desenho antigo. Muito antigo mesmo.
E uma falta imensa do que falar.

Então para acompanhar o desenho sem legenda: O início de um post que nunca foi terminado, assim como o desenho que até hoje continua um rascunho.

---------------x---------------

Fique claro:
Eu estou sorrindo pra não mandar você se foder.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

descartáveis e/ou recicláveis.

Todos os tipos que escolheu pra dormir
todos eles tiveram seu valor

Eram escolhidos e cortejados com uma dedicação admirável
E os beijos eram dedicados de uma forma sincera e única

Eram especiais e memoráveis,
não havia porque desconsiderar quem quer que fosse.

Só faltava lembrar dos nomes, dos rostos
ou de qualquer outra coisa que os humanizasse.

sexta-feira, 26 de março de 2010

drama queen


Ela gostava de teatro
e só sabia falar disto

E falava tanto, tanto...
que pensou viver numa peça

Dessas "zinhas"
que ninguém quer ver

terça-feira, 23 de março de 2010

suckass

Trocavam confissões às minhas costas enquanto eu reconstruía os cenários do desastre. Era eu que carregava os sacos, as vigas, os cortes, enquanto você brincava de não ser fodida. Quem merece paz agora? Quem merece aqueles muros mal montados e mal montados por culpa minha, porque eu trabalhava sozinha com aquele material de terceira qualidade. Eu não tenho um relatório desse projeto, só posso dizer que não servi de consolo para ninguém, nem fui lamber o rabo de quem não merecia. Eu posso ter sido o saco de pancadas, mas só meu, e de nenhum chefe a quem eu me ajoelhava solenemente.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

cabidela

Dessa vez vou ser eu a colocar a faca na sua mão.

Eu vou assistir a cada um dos seus cortes.

Eu vou observar o sangue rolando.

Dessa vez eu quero você aos pedaços, servida com gelo e limão, vodka, cachaça.

Vai ficar ali imóvel enquanto dançamos e cantamos embriagados

e felizes e completos.

E você ainda vai ser o aperitivo da noite.

Servida num pratinho vagabundo.

Para quem quiser te comer.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

dernière.

Descemos numa rua qualquer pra encontrar com a moça do pó. Uma fada Sininho com 60 conto de giz e pouca simpatia. Eu já conhecia o esquema “Oi, beleza? Tá aqui. Obrigada”.

Fomos umas 4 ou 5 vezes.

Nem me dou mais conta do que entra na cabeça, além das vontades instantâneas e rejeitáveis. Nessas horas, costumo vasculhar o celular em busca de algum número que faça sentido e no fim acaba por ser uma roleta russa, qualquer um serve. Não deveria servir, deveria ser um em especial, deveria várias outras coisas e mesmo assim eu não saberia o que fazer de verdade.

Eu sinto falta de quando as coisas aconteciam em um banheiro vagabundo, em cima de um mármore verde, com discussões sobre quem dividiria os esquemas.

Essa cidade é um grande palco, sabe. Teatros e teatros. Várias encenações. Eu já fiz algumas e me pergunto até quando vou continuar fazendo. Em diversos momentos, penso seriamente em deixar a trupe para trás e desistir dessa vida de atriz.