segunda-feira, 24 de novembro de 2008

devaneio I

da leveza que me salta aos olhos
metade é voce, puro e simples
a outra é o que me resta
depois que alivia
os meus sorrisos retesados.

pois assim que penso:
haveria mágoa se eu não conhecesse
como é estar feliz por saber-te?
haveria o medo a perder?
imagem: kurt halsey - "a pause for thought"

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

a fase da dor






Houve um tempo em que havia desistido de ter um blog, até, simplesmente, sentir vontade de voltar a ter. Durante o tempo de recessão literária, escrevia em um documento do Word, amontoava textos quando, e se, tivesse vontade.

Há alguns meses, quando reabri esse documento, possivelmente quando decidi voltar a escrever e publicar, percebi uma certa lógica na catarse, ciclos como o deste post. Decidi nomeá-los de forma óbvia, sem muita frescura. Essa é a fase da queda, da perda, da dor, como cada um preferir chamar.
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doeu-me intensamente
não ser mais nada.

não foi vazio como pensei que seria
o ato, de anular-me, perfurou-me:
dolorido e áspero.

e essa ausência sofrida
me incomoda mais
do que qualquer dor que me causara.
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Ele continuava sentado no mesmo banco. Imaginando o próximo passo. Alheio à realidade de que primeiro teria que se levantar, olhar para frente. Não podia definir como dor aquele sentimento. Era algo mais, era algo mais concreto. Algo que parecia correr pelas veias, pesado e cansativo. Sentia um cansaço na alma. Sentia vontade de virar pedra naquele banco e nunca mais avistar qualquer indício de vida e cotidiano. Queria virar cimento.
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Certo dia acordei e decidi de imediato que arrancaria aquele sentimento de mim. E cada esquecimento era como arrancar a carne junto. Queria explicar a intensidade desse sentimento. Como sentia um pedaço meu sendo arrancado, e a dor e a angústia que isso me trazia. É algo além das minhas capacidades. Eu queria morrer e não morria. É doloroso se sentir incapaz até de morrer. Então esperava que outras pessoas morressem e ninguém morria. Queria ter amnésia, não tive. E os nacos de carne ainda sendo levados. Era uma sensação estranha de quase vida. Havia um distanciamento entre mim e o mundo. As pessoas eram plásticas ou eu era. Alguém estava em um aquário. E ainda a carne dilacerada. Não foi uma boa época para viver.
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Não era dor o que buscava.
Esmagava-lhe o peito esperar.
Doía. Doía muito. Não lembrava que doía tanto.
E assim de súbito tivera a certeza
de que não era aquela dor o que procurava.
Queria a paz dos dias aparentemente vazios.
A calma das camas ocupadas por corpos cansados
Inertes por instantes glamorosos.
Buscava aqueles braços que lhe acalentariam.
Só isso.
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Arrancaram as lembranças
Esqueço-me aos poucos
do que
esqueci

E essa falta da sua parte
me apavora.

Onde foi que te
deixei
E onde foi que me perdi?

sábado, 8 de novembro de 2008

só pra constar.


Não ter medo:
O mar não se destrói
Com nenhuma tempestade.

(Guimarães Rosa)

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Não suporto amores escondidos
Desejos reprimidos
Fingimentos declarados
Acordos descumpridos
e falta de coragem.

Pois, esteja de sobreaviso
se teme ser do tipo dos vadios
descontrolados e alarmados:
Poupe-me os ouvidos.