sábado, 1 de agosto de 2009

you might choose: fears or bricks?

O telhado às vezes está perto demais, sequer é preciso uma queda para haver a compressão. Aquele espaço tão amplo e aconchegante que me fez acreditar completamente no conforto que aqueles braços me ofertavam, aquilo era o meu único porto seguro. Todas as vilanias do mundo pareciam incapazes de atravessar aquelas portas. Lá era possível ver pés descalços atravessando saguões, rodopiando, enquanto alguém entoava alguma valsa. Era possível dançar sem dança, rir sem motivo, não havia preocupações a ter. O ar era leve e fresco, as pessoas felizes e completas. Os abalos existiam, mas não assustavam nenhum habitante.

Todos nós imaginamos que aquele mundo existiria para sempre, por isso não havia sequer o medo de que o tempo passasse e houvesse uma devastação a qualquer momento. Isso era aparentemente impossível: não se destrói o intocável. Nada nem ninguém atravessaria aquelas portas e janelas. Então houve o pior, algo tão inimaginável que até agora me perturba o acontecimento deste fato: nossa fortaleza roeu por dentro, as suas estruturas estavam comprometidas desde o início da construção. É impossível culpar alguém por isso, nem mesmo o destino poderia ser responsabilizado. A casa agüentou o quanto pôde, mas surgiram as rachaduras, e a queda de um ou outro azulejo, depois os danos se tornaram mais aparentes, o telhado que descia... ou diminuíamos para caber ali, ou saíamos antes de ver o melhor que havíamos tido completamente em ruínas. Fomos cada um para um lugar diferente, andamos perdidos por aí, separados e unidos pela lembrança daquela fortaleza de calma.